Estação Radionaval de Apúlia pilhada e abandonada


Os doze edifícios eram de grande qualidade, mas estão agora em acentuada degradação, cobertos por densa vegetação

Esposende Catorze hectares tomados pelo Estado são uma sombra do passado. Imagem é desoladora

Alegadamente “a bem da nação”, foram tomados em favor do Estado, 14 hectares dos terrenos mais férteis de Apúlia, Esposende. Ali foi instalada, em meados do século passado, a Estação Radionaval do Almirante Ramos Pereira. Está à mercê de actos de vandalismo.

A Estação Radionaval de Apúlia é, a par de Algés, Sagres, Porto Santo e Ponta Delgada, uma das cinco que foram desactivadas, em 2001, tendo permanecido activa apenas a estação da Horta. No espaço outrora centro de investigação e formação da Marinha, observa-se agora um cenário desolador. Abandonado.

“Um estado que não é capaz de gerir o seu património não merece o respeito do seu povo. A Estação Rádio Naval de Apúlia foi, nos anos cinquenta do século passado, instalada no concelho de Esposende, tomando em favor do Estado cerca de 14 hectares de terreno, supostamente a Bem da Nação. Depois de funcionar cerca de cinquenta anos, como estação rádio naval, foi deixada ao abandono a partir de 2001, apresentando hoje um estado lastimável”, desabafa Manuel Moreira, morador de Apúlia que tem feito eco do estado a que foi lançada a infra-estrutura.

Quem aceda ao interior da estação, depara-se com o conjunto de doze edifícios já completamente vandalizados e cobertos por densa vegetação. Torna-se já impossível alcançar alguns edifícios, completamente cercados por silvas.

“Este cenário dá uma imagem de ruína e desleixo da Marinha Portuguesa, indiciando o mau exemplo de como o Estado Português defende o seu património”

Expropriações

A construção da estação, em Apúlia, entre 1947/1950, desencadeou um processo de expropriações que foi contestado localmente, devido aos fracos valores indemnizatórios. Foram tomados 14 hectares das terras mais férteis do concelho de Esposende, onde se prolongavam as ancestrais “masseiras”, locais de solo arenoso dedicados a culturas intensivas, fertilizados com sargaço.

Então, chamava-se “Estação Rádio Goniométrica Aéro-Naval de Apúlia”, o conjunto de edifícios fazia jus à época em que foi edificado, onde as fachadas em granito lavrado em cantaria são o máximo representante do estado Novo.

Agora, a messe dos oficiais apenas mantém o nome, a piscina é um charco com lixo, os diferentes barcos vão-se degradando, o ginásio é um amontoado de madeira e silvas. Pelo chão encontram-se computadores, arquivos, ficheiros, mapas de registos diários. Tudo o que foi, em tempos, importante para alguém e agora ficou esquecido para trás.

Vários projectos na gaveta devido à indefinição do Estado

Muitas têm sido as propostas de reabilitação da estação radionaval de Apúlia. O Estado revelou vontade de revitalizar uma parte do espaço, para acolher equipamentos do Sistema Nacional para a Busca e Salvamento Marítimo. Nas Autárquicas de 2009, o candidato do PS, disse pretender criar uma incubadora de empresas na desactivada estação radionaval, com o objectivo de “criar nos próximos quatro anos cerca de 200 postos de trabalho”. A autarquia pretendia que, entre outras vertentes, “ali fosse criado um observatório da erosão costeira, algo que não existe em Portugal”. João Cepa sempre revelou interesse no espaço e assumia que, caso o Ministério da Defesa optasse por entregar o perímetro à autarquia, equacionava destiná-lo a fins educativos, adaptando-o a um pólo de uma escola superior ou reinstalando ali a Escola Profissional de Esposende, o que permitiria alargar a oferta de cursos. Chegou a falar-se na instalação ali do curso de Gestão de Actividade Turística, do IPCA. Também a Associação Comercial de Barcelos chegou a ter, em 2005, um projecto turístico (resort) para aquela área, mas o Estado “abriu demasiado a boca”.

21-11-2011 - J.N. - PEDRO VILA-CHÃ - pvc@jn.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário